O neto do faroleiro

“Pedro, acabando de fazer os preparativos que o avô lhe mandara e de arrumar a cozinha, indo acender o farol, já no interior deste, reparou, ao retirar as cortinas que guarnecem os vidros da lanterna, que o faroleiro, encostado ao muro que rodeia o terraço e já sem óculo, continuava olhando para o norte.
Com todos os seus encargos em ordem, vestiu um sobretudo e foi juntar-se-lhe.
- Está aqui bastante frio! disse sentando-se muito próximo do avô, mas, não obtendo respostas, calou-se também ficando os dois assim por muito tempo, até que, pesada e negra, caiu por fim a noite.
O vento, noroestesinho – como diriam os pescadores da região – que soprara de tarde, tornando-a tempestuosa e fria, fizera, ainda que levemente, encapelar o mar”.

Autor: António Sousa Borges
Edição: Nazaré, 1938

Para as tardes de Outono que se aproximam, sugere-se a leitura de O neto do faroleiro, uma obra de entretenimento e de fácil leitura.


Trata-se de um romance cuja acção decorre na Nazaré, mais especificamente no Forte de S. Miguel. O autor descreve, em traços gerais, as características da vila e do Forte, que considera “pioneiro dos caminhos marítimos”, por aí se ter instalado o farol em 1903. Em linguagem simples, dá-nos um testemunho genuíno sobre a vivência de um faroleiro nos meados do século XX.


Uma história que envolve intriga política no início do Estado Novo, conspirações, amores proibidos, personagens misteriosos, mas que tem um final feliz – Pedro, o neto do faroleiro Martinho, reencontra o pai, descobre os verdadeiros avós e casará com Sidália na Igreja de Nossa Senhora da Nazaré.